domingo, 25 de maio de 2014

Capitulo 6

Anteriormente...

- Porque mentiu?

- Porque jamais teria permitido que eu gastasse dinheiro com você, embora tenha sido uma oferta especial, porque é mui... muito antiquado. Mas eu sabia que precisava sair da cidade. Então, quando Selena me deu o dinheiro e você concluiu seu caso, soube que estava recebendo um sinal - Ela riu novamente e grandiu o dedo diante do nariz - Sei que não acredita em sinais, mas está errado. Houve um tempo em que também não acreditava na influencia negativa numa 6ª feira treze. De qualquer maneira, nunca perceberá quando foi manipulado, porque é um homem, eu sou uma mulher, e isso me torna mais ardilosa.
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  Demetria acordou com um ruído estranho. Alguém estava matando um gato em algum lugar, pensou sonolenta. Por que alguém haveria de assassinar um pobre gatinho, e por que o faria de maneira tão ruidosa? Abriu um olho, uma tarefa difícil, porque as pálpebras pareciam estar coladas. A luz a cegou, mas o barulho a fez ignorar o desconforto. Demetria abriu o outro olho. Onde estava? Essa era a primeira coisa que precisava descobrir. E a segunda era quem fazia aquele barulho terrível. Olhou em volta, notou que estava em um quarto e lembrou... estava de férias em Amore Island... O que significava que o barulho terrível só podia ser... Joe que estava cantando Opera. Ou tentando cantar Opera. Infelizmente, não estava se esforçando muito. Mesmo assim, ela sorriu. Joe cantando Opera, ou pretendendo cantar, só podia significar uma coisa: ele havia relaxado. Por isso montara um plano elaborado, para afastá-lo do trabalho ajudá-lo a esquecer os problemas. E pelo visto obtinha resultados positivos. Oh, sim, tinha um divida de gratidão com Chad. Ele oferecera a desculpa que ela precisava.
  Demetria sentou-se, mas voltou a deitar-se com rapidez espantosa. O que Joe fizera com ela? Lembrava-se vagamente de estarem prestes a sofrer um acidente aéreo. Joe sugerira um drinque... e tudo começou a ficar confuso a partir dessa lembrança. Imagens nubladas sobrepunham-se numa sucessão sem sentido. O rosto da comissária de bordo, o de Joe, Ashley... Ashley? Não. Devia ter sofrido uma alucinação. Levara Joe para a ilha a fim de fazê-lo esquecer Ashley. Talvez o avião houvesse mesmo caído e estivesse ferida. Isso explicaria a dor de cabeça. Concussão. Não, a dor de cabeça devia ser resultado do excesso de álcool que tomara graças ao incentivo de Joe. Tinha lembranças confusas de sua chegada ao hotel. Recordava-se de um saguão com uma cachoeira... Seria possível existir uma cachoeira no saguão do hotel... ou também teria alucinado essa parte? Demetria examinou melhor o conteúdo da memória. Fora carregada por Joe. Depois ele havia desabotoado sua blusa... A dor de cabeça ganhou intensidade e ameaçou roubar-lhe as forças. O que fizera? Melhor ainda, o que Joe havia feito com ela enquanto estava embriagada? Espiou sob as cobertas e sentiu-se enjoada. Gemendo, Demetria fechou os olhos e lamentou as conseqüências da excessiva ingestão de álcool. Deixara o melhor... bem, não deixara. E nem ele era seu melhor amigo, ou não seria responsável pelo estado em que se encontrava. A lamentável  tentativa de cantar Opera chegou ao fim, e o objeto de sua reflexão surgiu de trás de uma porta.

-  Ah, está acordada - ele apontou com um sorriso que a desarmou.

-  O que você fez?

Joe franziu a testa.

-  Como assim?

Ela olhou sob as cobertas novamente para ter certeza do que ia dizer.

-  Combinamos que dormiríamos no mesmo quarto, mas ninguém disse que ficaríamos na mesma cama. Onde estão minhas roupas, e em que estava pensando quando... quando.. - Não podia concluir a frase. Pensar no que haviam feito, nas implicações do incidente para a velha amizade... Era terrível demais para que pudesse expressar com palavras.

-  Fale, Demi. O que está pensando?

Sentia o rubor que tingia seu rosto e não podia fazer nada para evitá-lo. O embaraço alimentou a ira.

-  Quando fez o que quis comigo.

-  Não fiz nada do que está insinuando.

-  Fez. Lembro que me trouxe para o quarto e desabotoou minha blusa.

-  Mas não se lembra de ter gritado que era capaz de despir-se sozinha? Nem de ter unido a ação às palavras?

Sem desvia os olhos dele, Demetria balançou a cabeça.

-  Nem se lembra de que eu saí do quarto enquanto você tirava a roupa?

Mais uma vez, ela balançou a cabeça.

-  Ou de que retornei meia hora mais tarde e dormi no chão, sobre um cobertor?

O alívio era como uma onda quente invadindo suas veias. Ele não... ele não...

-  Desculpe. O problema é que acordei com a sensação de que aquele maldito avião havia pousado sobre minha cabeça, e tudo era muito estranho... Irreal. Então descobri que estava nua e...

-  Tudo bem, está perdoada - Joe respondeu com simplicidade. Com muita simplicidade - Por que não toma ducha e os dois analgésicos que deixei sobre a bancada do banheiro. Quando terminar, o café já estará aqui.

Pensar em comida fez seu estômago enfrentar uma turbulência pior do que tudo que havia experimentado no dia anterior.

- Duvido que eu consiga comer.

- Vai se sentir muito melhor com o estomago cheio. Confie em mim!

Demetria não acreditava que pudesse sentir-se bem algum dia, mas não discutiu com Joe.

- Vire-se de costas para que eu possa correr para o banheiro.

- Certo - ele concordou, olhando para o oceano além das portas de vidro.

- Não tente espiar - Demetria o preveniu, enrolando-se no lençol que arrastou para o banheiro.

- Juro que não.

Ela se moveu tão depressa quanto permitia a cabeça latejante, sem se dar conta de que Joe podia vê-la refletida no vidro. Sua atitude não havia sido de um cavaleiro, mas não conseguia se conter. Ela fora tão confiante ao longo da noite! Ainda lembrava da sensação de tê-la nos braços a caminho do hotel, no táxi e até no quarto, e havia sido uma sensação muito agradável. Pensara muitas coisas sobre Demetria ao longo dos anos, mas ela sempre fora uma amiga. Uma donzela que ocasionalmente resgatava no papel de cavaleiro medieval. Nunca pensara nela como mulher, como alguém com quem pudesse ter um relacionamento íntimo. Na noite anterior havia percebido que Demetria era uma mulher, e desde então não conseguia pensar em outra coisa.

Uma hora mais tarde, já sob o efeito do analgésico e do estomago cheio, Demetria sentia-se viva outra vez.

- O que faremos hoje? - Joe perguntou

Ela estava sentada à mesa ao lado da janela. A vista do quarto era maravilhosa. Céu azul, água cristalina banhando a areia branca... Um paraíso à disposição deles.

- A ideia é não fazer nada - disse

- Ninguém pode passar o tempo todo fazendo nada.

- Eu posso - Sempre tivera a sensação de que faltava algo nela. Não tinha grandes ambições, nem sonhava ser milionária. Adorava criar vestido, desenhá-los e até costurá-los, mas nunca imaginara seu nome nas passarelas de Nova York ou Paris. Estabelecer-se no mercado de LA era tudo que esperava conseguir. Mas, quando não estava na loja, não só conseguia ficar sem fazer nada, como apreciava o ato.

- Muito bem, onde vamos fazer nada? - Joe persistiu, o tom indicando que ainda não a levava a sério.

- Na praia, é claro. De que adianta viajar a uma ilha paradisíaca e ficar fazendo nada no quarto? - Oh, sim, Joe aprenderia uma ou duas lições sobre a arte de não fazer nada. Ela estava trabalhando como um louco desde que Ashley partira, e já era hora de parar. Enquanto ainda podia. Pensar em Ashley a fez franzir a testa. Não só o faria relaxar, como o faria rir novamente. Tomaria providências para isso.

- Bem, se vamos à praia fazer nada, então estaremos fazendo alguma coisa - o eterno advogado era incapaz de resistir ao chamado de uma boa argumentação - Você vai tomar sol, eu vou ler...

- Espero que tenha trazido boa literatura, porque se tentar levar um único processo que seja para aquela praia, juro que não serei responsável por meus atos.

- Fique tranquila. Trouxe apenas livros voltados para o lazer, conforme ordenou, senhorita - Ele a provocava... ria como um tolo e tentava irritá-la com suas brincadeiras bobas, como se ainda estivessem no ginásio. E Demetria adorava isso.

- Sorte sua!

- Eu não ousaria desobedecê-la. Notei o brilho em seus olhos quando anunciou as regras do jogo.

- Eu não anuncio regras. Apenas faço sugestões... às vezes com veemência. E de que brilho está falando?

- Oh, você sabe! Sempre tem a mesma expressão quando está determinada a impor seu ponto de vista. De qualquer maneira, trouxe apenas bons livros e nenhum processo.

- Ótimo, que tipo de livros?

- Contos sobre o velho oeste. - Ele apontou uma arma imaginária em sua direção e ajeitou um chapéu também imaginário.

Demetria riu.

- Que autor escolheu?

- John Legg. Ele sempre foi meu preferido. Mesmo quando está escrevendo sob um pseudônimo, tento encontrar sua obra. Há alguns anos, não tenho lido nada além de contratos e processos, e por isso saí procurando pelos livros que havia deixado de comprar.

- Deixou de fazer muitas coisas nos últimos anos, especialmente nos últimos meses - Percebendo que assumia o tom de voz de uma mãe severa repreendendo o filho pequeno, decidiu recuar - Mas esta semana será diferente - Sorrindo, tentou suavizar a voz e conter o impulso de dar algumas ordens. Joe tinha uma tendência para tornar-se defensivo quando acreditava estar perdendo o controle - Vamos nos divertir!!

- Vamos?

- Oh, sim! Considere essa semana como um curso intensivo. A lição de hoje será: Como fazer nada e divertir-se muito com isso.

- Parece complicado...

- É muito simples. Só exige um frasco de bronzeador, alguns livros e duas toalhas.

- E os trajes de banho? Por acaso são opcionais nessa praia?

- Mesmo se fossem nos usaríamos os nossos.

- Oh... - Joe suspirou desapontado - Você sabe como arruinar as chances de diversão de um homem.

- Sempre ouvi dizer que é bom manter uma dose de mistério. Por que não aproveita para olhar as mulheres na praia? - Era maravilhoso. Joe estava brincando, relaxado e feliz. O plano estava funcionando.

- Quer que eu aprenda a divertir-me, e a primeira lição será olhar pras mulheres na praia? Uau! Estou começando a gostar dessa viagem.

- Eu disse olhar, não tocar. Lembre-se de que este é um hotel para casais, e todas as pernas, e outras partes que quiser admirar, estarão ligadas não só a um corpo, mas a outro corpo que pertencerá a um homem.

- Desmancha-prazeres.

- Realista! - Nem sempre fora assim. No ginásio tivera grandes sonhos. Mas, ao longo dos anos, descobrira que nem todos poderia ser realizados, e assim também aprendera a aceitar a vida como ela se apresentava. De repente lembrou-se da etiqueta Demetria Lovato que estaria esperando por ela quando retornasse das férias. Talvez alguns sonhos fossem possíveis. Olhou para o homem de cabelos escuros perto dela. Talvez ele se curasse do rompimento com Ashley, e então outros sonhos teriam uma pequena chance.

- Ei, você é a pessoa menos realista que conheço.

- Não sou!

- Demetria, você nunca viveu no mundo real.

Ela se virou de costas. Era inútil discutir. Joe sempre a considerara incurável e duvidava de que algo pudesse mudar esse ponto de vista. Para ser honesta, não desejava mudá-lo. Quem era ela para negar a um grande amigo o prazer de bancar o cavaleiro medieval?
Permitiria que ele a resgatasse. Joe nunca enxergara a realidade, e não pretendia explicá-la àquela altura do campeonato. Era quase egoísta. Se ele a resgatasse, ao menos estaria em sua vida de alguma maneira. Ashley deixara claro que ela não era mulher o bastante para ameaçá-la. Joe nunca a vira desta forma. Era apenas uma parceira, alguém com quem podia passar o tempo quando Ashley partia em uma de suas constantes viagens. E por mais que a atitude de irmão mais velho a incomodasse as vezes, Demi aprendeu a suportá-la.

- Venha, estamos perdendo tempo - disse

- Pensei que o objetivo fosse justamente desperdiçar o tempo.


- Na praia. Vamos perder nosso tempo na praia, está bem? 

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   No final da tarde, Demetria olhou-se no espelho do banheiro. Fazer nada era mais perigoso do que havia imaginado.

-  E então, vai passar a noite ai dentro? - Joe perguntou do outro lado da porta.

-  Talvez - sentada na beirada da banheira, olhou para as roupas que deixara sobre a bancada. Não podia vesti-las e também não podia sair dali sem elas. A nudez da noite anterior havia sido compreensível, mas não pretendia adquirir o hábito de ficar nua perto de Joe.

-  Não pode ser tão ruim - ele insistiu.

Demetria soluçou e limpou o nariz com um lenço de papel.

-  É pior!

Olhou para as roupas. Preferia sentir dor a passar o resto da viagem trancada no banheiro. Não conseguiria vestir o sutiã sobre a pele queimada de sol, mas a camiseta causou um sofrimento suportável. Talvez tivesse motivo para ficar feliz com a ausência de certos atributos. Ninguém notaria que estava sem sutiã, ou sim, que seja. Decidindo que a calcinha seria igualmente intolerável, vestiu os shorts folgado e respirou fundo.

-  Usou a loção que lhe deram na enfermaria, Demi?

-  Mais ou menos

-  Como assim?

-  Não consegui alcançar todos os lugares

-  Ah... precisa de ajuda?

Ela abriu a porta.

- Você nem ficou vermelho! - acusou-o ressentida

- Você sabe que nunca me queimo.

- Não parece justo...

- Vamos, me dê a loção.

Demetria entregou o frasco e virou-se

- Não consegui alcançar o meio das costas. Espalhei o creme no alto e embaixo, mas nem todo o contorcionismo do mundo foi suficiente para que meus dedos tocassem a área central. - Erguendo a metade posterior da camiseta, segurou a outra parte sobre o umbigo.

- Não está usando sutiã?

- É claro que não. Sei que às vezes sou meio esquisita, mas nunca fui masoquista. Tem idéia do que aquelas alças teriam feito comigo?

Joe espalhou a loção sobre a pele queimada e espalhou-a devagar, fingindo não ouvir o suspiro de alivio que escapou da garganta de Demetria. Devagar, continuou massageando toda a região avermelhada. Demetria sabia que não suspirava de alivio. Ao longo dos anos, aprendera a esquecer que Joe era seu ideal de homem, mas em momento como aquele, tudo era mais difícil. Sentia-se culpada por conta do sentimento. Joe estava sofrendo, trabalhando como um lunático, e ela se deixava consumir pela luxúria. Era melhor nem pensar nisso. Todos os outros homens com quem saíra haviam sido comparados a Joe, e nenhum deles passara no teste. Começara a desejá-lo no ginásio com a intensidade típica da adolescência. Depois, já adulta, esquecera a paixão e concentrara-se na amizade. Mas quando as mãos acariciavam suas costas... Bem, esquecia de esquecer e voltava a arder de desejo. Droga! Por que tinha de torturar-se daquela maneira?

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5 pra próxima...

sábado, 5 de abril de 2014

Capitulo 5



Anteriormente...

Joe a viu terminar de comer e teve a sensação de ter perdido uma batalha que nem sabia estar disputando. Demetria vencera o 1º turno!
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 Demetria passou pela porta da Encore, ansiosa para contar a alguém sobre o sucesso de seu plano. A loja estava vazia, e ela seguiu para o escritório, onde Selena Gomez, sua chefe, trabalhava com afinco.


- Selena, eu consegui! - anunciou, sentando-se na cadeira diante da mesa da proprietária - Oh, dessa vez eu consegui!

A morena de proporções delicadas desviou os olhos dos papéis espalhados pela mesa.

- Ele caiu no truque?

- É claro que sim! Partiremos amanhã para uma semana de férias, e Joe ainda nem sabe como tudo aconteceu

- Demi, um dia ele vai perceber como o manipula

- Nunca. Faço a mesma coisa desde que éramos crianças. Ele nunca percebeu nada. - Sentia-se bem. Mais do que isso se sentia ótima. Convencera Joe a tirar férias e entregar-se ao descanso que tanto merecia. A pequena mentira que contara fora mais do que justificada.

- Um dia vai ultrapassar o limite, e então...

Demetria riu da idéia.

- Selena, Joe está sempre tão ocupado tentando me salvar de mim mesma, que nunca vai perceber o que faço. Ele nunca saberá de nada, a menos que uma de nós conte a verdade. E não vamos dizer nada a ele, certo?

Selena suspirou e empurrou os papéis para o lado.

- Certo

- Ei, há algo de errado aqui. Consigo convencer um de vocês a tirar férias, e o outro ameaça entrar em colapso. Porque está tão tensa?

- Porque odeio a parte burocrática do trabalho

- Então a deixe em uma gaveta. Eu cuidarei de tudo quando voltar.

Demetria não gostava de cuidar dos registros e da contabilidade da loja, mas o trabalho não a aborrecia tanto quanto parecia incomodar Selena, e por isso era ela quem cuidava dos livros fiscais da Encore.

- Na verdade, já terminei tudo - Selena pegou uma folha de papel e entregou a Demetria - É melhor aproveitar as férias, porque sua carga de trabalho acaba de crescer muito.

As mãos dela tremiam enquanto olhava o papel.

- Está falando sério?

Uma rosa pequenina surgia ao lado de seu nome. Demetria Lovato. Sua própria linha de vestidos. Era um sonho que se realizava. Não havia mentido quando dissera a Joe  que adorava o que fazia e acordava animada para ir trabalhar. Gostava das pessoas e do atendimento personalizado oferecido pela Encore. Gostava de fazer uma cliente feliz, de vesti-la com elegância e exclusividade... Mas tinha sonhos maiores.  Suas próprias criações. Criar uma linha de vestidos era um sonho que se encaixava perfeitamente na vida que construirá para si mesma trabalhando para Selena. A Encore era uma loja bastante eclética com uma clientela leal e crescente. Não vendiam apenas vestidos antigos, mas reproduções e, até aquele momento, alguns poucos originais de Demetria. Mas agora esses desenhos alcançariam o status de uma coleção própria. Uma etiqueta. Tentara a universidade. Depois estivera em uma dúzia de empregos diferentes, até encontrar o anuncio de Selena no jornal. A loja precisava de alguém que soubesse vender e costurar. Aperfeiçoara as suas qualidades sob a supervisão atenta de Selena, e atualmente era uma especialista. Olhou para o logotipo da nova etiqueta. Aquele era o resultado de muito trabalho e de um sonho.

- Tem certeza de que vai dar certo? - perguntou. A possibilidade do fracasso era a parte mais assustadora de realizar um sonho.

- Demi, sabe como as pessoas se interessam por seu trabalho. Lavander Brown não descansou enquanto não conseguiu uma de suas criações para usar na entrega do premio em Tenessee. Ela faz parte da Liga Nacional Feminina de Basquete e poderia ter escolhido qualquer estilista, mas preferiu você.

- Minha etiqueta - Demetria sussurrou. Depois elevou o tom de voz e levantou-se da cadeira. - Minha etiqueta!

- Ei, sua etiqueta vai estar esperando quando voltar para casa na semana que vem. Não vai ser fácil, mas quero que esqueça tudo isso. Neste momento, temos de ir às compras.

- Compras? Por que? - Demetria quis saber.

Selena já a levava para fora do escritório

- Vai passar uma semana em uma ilha romântica com um homem, e ainda pergunta? Precisa de roupas novas.

- É só Joe.

Selena fitou-a com uma expressão estranha e indefinível

- Sim, mas serão apenas você e ele por uma semana

- Mas...

- Encare as férias como uma oportunidade de promover a Encore. A semana foi promovida com um pacote especial de uma agencia de viagens de Los Angeles. Tem idéia de quantos moradores daqui estarão naquela praia?

Antes que Demetria soubesse o que estava acontecendo, Selena havia enchido um provador com dezenas de peças que ela teria que provar.

- Você vai voar alto - prometeu a dona da loja.


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  Estava realmente voando alto, mas tudo que queria era por os pés no chão.

- Oh, Joe , havia me esquecido de como odeio voar.

- Dem, essa é a primeira vez que você viaja de avião.

- E a última - ela agarrou os braços da poltrona. Sabia que os dedos estavam tão brancos quanto o rosto.

Havia vencido. Joe não tivera tempo para recuar em sua decisão de acompanhá-la, e lá estavam eles, em um avião, voando para o final. Naquele momento, não se sentia exatamente como uma vencedora.

- Demetria, é só uma turbulência.

- Não acredito em você. E também não acredito no capitão Dave. Aposto que perdemos um motor, ou uma asa, ou algum outro equipamento importante para permanecermos no ar.

- É só uma turbulência - ele repetiu.

- Sim, você e o capitão Dave insistem nessa afirmação. E que tipo de nome é esse, afinal? Capitão... Dave!

- Ele deve ser competente, ou não estaria no comando do avião. - Joe massageou seus ombros, tentando livrá-la da tensão.

Demetria estava apavorada demais para apreciar o contato.

- Competente? O homem esta conduzindo o veículo que vai nos levar à morte!

- Relaxe, Demi. A idéia foi sua, lembra-se?

Odiava aquela confiança inabalável, aquela eterna segurança.

- Isso mesmo, lembre-me de que fui a única culpada pela nossa morte. Assim vai me fazer sentir melhor.

Joe jamais perceberia como ela se esforçara para fazê-lo relaxar antes que ele sofresse uma úlcera ou coisa pior. Jamais saberia como sofria quando via aquela sombra em seus olhos: a expressão era sempre a mesma quando ele pensava em Ashley. E ele jamais saberia, porque nunca diria nada. E nunca diria nada porque estavam voando para a morte. Não teria tempo de uma confissão apaixonada. Joe ergueu as sobrancelhas escuras no que devia ser uma tentativa de demonstrar solidariedade e massageou seus ombros novamente.

- Tudo vai acabar bem

- Bem? Não sei. Mas que tudo vai acabar, isso é certo.

Joe suspirou. Quando Demetria ficava daquele jeito, era inútil tentar argumentar. Certa vez ela se recusara a sair de casa numa sexta-feira treze porque um gato preto atravessara seu caminho no dia anterior. Convencido de que o animal representava um mau pressagio, tentara convencê-lo a também permanecer em casa. Joe rira de sua superstições tolas. Mas Demetria acabara rindo por último, porque naquele dia Joe batera o carro, uma Ferrari que sofrera perda total. Ou melhor, Demetria não rira. Ficara aliviada ao saber que os danos se restringiram ao automóvel, e que o amigo saíra ileso do acidente. Joe segurou uma das mãos tremulas e geladas.

- Tudo vai dar certo - afirmou.

Demetria assentiu, e notando que a tensão crescia, ele chamou a comissária de bordo.

- Pode providenciar uma bebida pra nós, por favor?

- Certamente. O que preferem?

- Suco de frutas - ela pediu

- Com uma dose de vodca - Joe acrescentou

- Não bebo - ela protestou

- Mas hoje vai beber. Lembra-se do que disse sobre piña colada ser a bebida perfeita para um dia na praia? Pois bem, vodca é o drinque perfeito para enfrentar uma turbulência.

Pouco depois as bebidas eram servidas.

- Beba!

- Não quero...

- Não vai sentir o sabor da vodca, e o álcool servira para deixá-la mais relaxada. Vamos, beba.

Resignada, Demetria respirou fundo e provou a mistura.

- Não é tão ruim - opinou

- Beba tudo!

 Dez minutos mais tarde, pediram uma segunda rodada. E depois dela, a terceira. Meia hora mais tarde, Demetria havia recuperado a cor e ria sem parar.

- Qual é a graça? - Joe indagou. Estava acostumado com as repentinas mudanças de humor e o temperamento alegre, mas ela nunca havia se comportado como uma adolescente tola. De qualquer maneira, preferia o riso abobalhado à tensão que o precedera. - O que pode ser tão engraçado?

- Você!

- Eu?

- Sim, você - Demetria ria com se houvesse escutado a melhor piada de sua vida.

- Por que sou tão engraçado? - Sim, preferia vê-la bêbada a presenciar o nervosismo que a dominara minutos antes.

- Oh, você é um homem, e isso o torna engraçado. Nem percebeu que foi enganado para vir nessa viagem comigo.

- Eu percebi. - Desde o inicio compreendera que ela não desejava a companhia de outro homem. Demetria gostava de pensar que o manipulava, e ele era amigo o bastante para deixá-la acreditar nisso. Durante todo o tempo, fingia apenas para compor o espetáculo. Dessa vez... Bem, tirar férias não fazia parte de seus planos, mas havia decidido que talvez Demetria estivesse certa. Precisava mesmo afastar-se de casa, das lembranças que lá residiam. Ashley se fora. Era hora de reconstruir sua vida. De fato, havia passado da hora.

- Está mentindo. Eu o enganei. - Ela soluçou e prosseguiu - Sabe que Chad não comprou os pacotes?

- Não? - Embora houvesse percebido a tentativa de manipulação, em nenhum momento desconfiara de uma mentira.

Demetria continuou rindo enquanto assentia.

- Eu paguei pela viagem. Selena me deu uma gratificação por ter atraído tantas encomendas especiais. Aquele vestido para a estrela da Liga feminina de Basquete foi a maior de todas, a mais vis...visível. Ela transformou a Demetria Lovato em um... uma etiqueta exclusiva da loja.

- Porque mentiu?

- Porque jamais teria permitido que eu gastasse dinheiro com você, embora tenha sido uma oferta especial, porque é mui... muito antiquado. Mas eu sabia que precisava sair da cidade. Então, quando Selena me deu o dinheiro e você concluiu seu caso, soube que estava recebendo um sinal - Ela riu novamente e grandiu o dedo diante do nariz - Sei que não acredita em sinais, mas está errado. Houve um tempo em que também não acreditava na influencia negativa numa 6ª feira treze. De qualquer maneira, nunca perceberá quando foi manipulado, porque é um homem, eu sou uma mulher, e isso me torna mais ardilosa. 


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5 pra proxima...

segunda-feira, 10 de março de 2014

Capitulo 4 


Anteriormente...

- Teria encontrado uma forma de remover toda aquela cera sem sua ajuda. Não quero mais incomodá-lo com meus problemas.

- Afinal, qual é o problema? - ele perguntou impaciente

- Não precisa gritar comigo!!

- Me desculpe.

- Tudo bem - ela choramingou

Joe inclinou-se e tocou seu queixo com a ponta do dedo.

- Agora me diga, que problema é esse?

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- Lembra-se que quando você chegou em minha casa? Eu disse que estava depilando as pernas por que ia à praia no final de semana para bronzear-me?

- Sim, eu me lembro de tudo que disse.

- Esse é o problema!

- Mas já removemos cera de suas pernas

- Não estou me referindo a cera, mas à praia.

- O que tem a praia? - Tinha a sensação de que estava mais confuso a cada resposta que ouvia.

A ilha Presque Isle, era uma península que tocava um grande lago, abrigava praias maravilhosas e criava baías acolhedoras que ficavam a poucos minutos da cidade. Demetria adorava freqüentá-las durante o verão e sempre tentava convencê-lo a acompanhá-la. Mas desta vez tinha algo diferente em mente.

- Preciso de uma companhia masculina – disparou - Esperava que.. conhecesse alguém.

- Por que precisa de um homem?

- Porque apenas casais são permitidos nessa praia

Joe riu.

- Demi, de onde tirou essa idéia? Qualquer pessoa pode ir a Presque Isle. Afinal estamos falando sobre uma Ilha praticamente... turística.

- Uma Ilha "praticamente" - Demi mecheu com os dedos ao infatizar a palavra a colocando entre aspas - turística... que não inclui a península, Amore Island. Lembra-se? Já falei com você sobre o lugar. A agência de viagem de Selena estava oferecendo um pacote especial, e Chad e eu já havíamos decidido aproveitar. Agora que rompi com Chad, não sei o que fazer.

- Não estou entendendo.

Para um advogado, ele podia ser inteligente. Era perspicaz com os contratos que defendia, mas incapaz de seguir meia dúzia de argumentos simples. Devagar, como se falasse com uma criança pequena, Demetria explicou:

- Trata-se de um hotel para casais. Como não faço mais parte de um casal, eles não permitirão minha entrada no lugar ou na praia.

- E quer que eu apresente aos meus amigos e que a ajude a encontrar um substituto? - falou e em seguida tomou um dos copos de agua que se encontravam sobre a mesa.

Demetria balançou a cabeça e sentiu o coque desmoronar. Suspirando, soltou-o e deixou os cabelos caírem livres sobre os ombros.

- Não Joe - respondeu - Quero você...

Joe expeliu uma grande quantidade de água pelo nariz e começou a tossir, o que atraiu os olhares preocupados dos outros freqüentadores do restaurante.

- O que? - ele arfou quando foi capaz de respirar novamente.

- Quero que vá comigo e finja que somos um casal. Não posso ir sem um homem, e pensei que você poderia ser...

- Pensou que eu pudesse ser um homem?

- Não, pensei que pudesse fingir que é meu homem enquanto desfrutamos de férias inesquecíveis, cortesia de Chad.

- Quer dizer que Chad pagou pelo pacote e você vai usá-lo?

Essa era parte do plano que despertava uma certa culpa. Enganar Joe pensando em seu bem era uma coisa, mentir era outra. Mas não tinha alternativa.

- Ele disse que não queria ir, e que eu devia aproveitar para descansar. Não brigamos. Apenas rompemos de maneira civilizada e amistosa.

Joe estudou-a com ar intrigado.

- Vejamos se entendi bem. Esteve envolvida com Chad durante um ano, mas rompeu o relacionamento ontem à noite porque ele pediu fetuccine e não sabe beijar como eu.

Demetria assentiu...

- E, por ter sido um rompimento amistoso, ele sugeriu que desfrutasse de férias pagas em um hotel de casais. E você imaginou que eu aceitaria ser a outra metade do seu casal inexistente?

- Esqueceu a cera. Depilei minhas pernas para ir à praia, e vou exibi-las de uma forma ou de outra.

- E a praia do tal hotel é melhor do que Presque Isle?

- Não sei se é melhor. É apenas... distante e diferente. Lá existem teatros, cinemas, boates e... Ora, Joe, estamos falando de um playground pra adultos, uma terra de sonhos separada da realidade por um oceano. Quem pode querer mais? Você tem trabalhado demais. Achei que podia aproveitar a oportunidade para relaxar. E eu quero bronzear-me e beber piñas coladas. Ah, qual é? Diversão Joseph!

Ele balançou a cabeça, indicando que pretendia oferecer uma desculpa.

- Demi, sabe que eu faria qualquer coisa por você, mas não sei se posso me afastar de tudo, especialmente com tão pouca antecedência para os preparativos necessários.

- Você não tira férias há anos

- Mas...

- Além do mais, está mais habituado aos contratos do que à corte, onde tem passado quase todo o seu tempo. Junte o estresse profissional a... - Quase disse Ashley, mas não queria fazê-lo lembrar a mulher que ele perdera - ao fato de não ter nenhuma diversão há muito tempo, e terá todas as razões de que precisa para ir comigo.

- Mas, Demi...

- Não quero ouvir mais nada Joe. Não vou obrigá-lo a aceitar meu convite. Tenho certeza de que encontrarei muitos outros interessados em levar-me a um hotel paradisíaco para uma semana de sonho.

- Uma semana? Pensei que fosse apenas dois ou três dias.

Martin aproximou-se com o jantar.

- Agora, Demetria, coma e esqueça tudo sobre ontem à noite.

Ela se debruçou sobre a mesa e respirou fundo.

- Obrigada, Martin!

- Uma semana - Joe resmungou quando o maître afastou-se.

Automaticamente, ofereceu um camarão a Demetria. Ela o aceitou e mordeu o quitute com gosto, deixando a parte da cauda na beirada de seu prato enquanto suspirava satisfeita.

- Uma semana - confirmou - E como disse, encontrarei um homem que queira acompanhar-me. Afinal, o pacote já foi pago. Vamos passar os dias sentados na praia, bebendo drinques gelados e saborosos.

- Dem, você não bebe...

O problema com os advogados era a maneira literal como interpretavam qualquer comentário.

- Não bebo aqui, mas em uma praia paradisíaca... Quem sabe? E já que não quer ir comigo, vejamos se pode ajudar-me a pensar em alguns candidatos.

- Demi! - Joe começou com aquele tom irritado. Não sabia por que insistia em discutir com ela, se já sabia quem seria o vencedor.

- Vejamos... Martin gosta de mim. Talvez queira descansar um pouco. Sabe se ele é casado? Não deve ser, ou já teria falado sobre a esposa. Somos amigos, não? Sim, talvez ele queira ir comigo.

- Martin não irá com você a lugar nenhum. Os clientes do clube não sobreviveriam sem ele.

- Tem razão. E alguns jamais me perdoariam. Bem, quem pode estar disponível em seu escritório? - Enquanto esperava pela resposta, provou o fetuccine e fechou os olhos para desfrutar melhor do prazer proporcionado por uma boa refeição. Algo se manifestou no peito de Joe. Algo que não devia manifestar-se enquanto observava uma amiga. Devia ser o vestido. Sem duvida fora criado para levar um homem a pensar no pecado. E pensar em certas coisas com Demetria, sua irmã, sua melhor amiga, era quase pecaminoso.

- Quem está disponível no escritório? – repetiu.

- Ninguém!

Ela abriu os olhos e engoliu a comida.

- Não está sendo muito útil.

- Eu sei - Joe mordeu um camarão como se ali residisse a culpa de todos os males do mundo.

- Bem, se não conhecesse ninguém, acho que tenho que ir à caça. O problema de trabalhar em uma loja de vestidos é que poucos homens passar por lá, e poucos que aparecem já são casados ou comprometidos.

- Caça? - Odiava imagens geradas em sua mente pela simples palavra.

- Sim caça. Como acha que conheci Chad? Não foi no trabalho. Respondi ao anuncio que ele pôs nos classificados do jornal.

- Está mentindo - Aprendera a esperar o inusitado de Demetria, mas responder a anúncios desse tipo... Bem, isso ia alem do inusitado.

- Não, Joe - ela respondeu com um sorriso doce - Toneladas de rapazes escrevem para os jornais todas as semanas. Um deles vai se interessar por uma semana em um paraíso tropical. Imagino que não vai ser fácil dividir o quarto com um desconhecido, mas... O que posso fazer?

- Ah, moi petite, sei que não costuma beber, mas pensei que o vinho poderia complementar e o prato e animá-la. Estamos todos muito preocupados com você - Martin anunciou com seu sotaque francês. Demetria sorriu.

- Já estou animada. Diga a Vicenzo que irei parabenizá-lo assim que acabar de comer.

Martin serviu um pouco de vinho em uma taça e entregou-a a Joe, que assentiu sem sequer olhar para a bebida.

- Devo servir?

- Eu mesmo sirvo. - Ele tomou a garrafa do maître para despejar o vinho em dois copos.

Demetria comeu mais um pouco de fetuccine e suspirou.

- Joe, isto aqui é o paraíso na Califórnia.

- Sim

- Mas você nem experimentou a massa!

- Eu disse sim, vou com você

Demetria balançou a cabeça...

- Mudei de idéia. Não seria justo. Afinal, seu trabalho é muito importante e você é um homem muito ocupado. Trabalhar em uma loja de vestidos não é tão importante quanto empenhar-se em proteger e servir a comunidade.

- Essa é a polícia.

- Oh, os policiais também servem e protegem, mas é você quem manda os bandidos para a cadeia. Não quero privar os cidadãos de Los Angeles de sua proteção. Certamente encontrarei alguém.

- Demi, a única coisa que protejo é a responsabilidade comercial - Sentia os primeiros sinais de uma terrível dor de cabeça - E você não vai encontrar ninguém.

- Já disse que não, obrigada. Agora coma, está bem? O último caso o deixou bastante abatido. Você parece cansado. - E roubou mais um camarão de seu prato.

- Estou ótimo e nenhum outro homem vai levá-la a lugar algum. Ouça o que eu digo, Demetria Devonne Lovato, não haverá outro homem com você nessa viagem.

- Joe...

- Por favor - ele apelou.

- Se insiste... - encolheu os ombros.

Como ela conseguia? Por que sempre o levava a fazer aquilo que ela queria, a praticamente implorar para ela fazer o que ela mesma esperava que fizesse? Não conseguia entender as mulheres, e Demetria era um desafio ainda maior. Na maior parte do tempo, esquecia que ela era uma mulher, era apenas Demetria. Mas em momentos como aquele, lembrava-se de sua feminilidade com força espantosa.

- Tem certeza que pode afastar-se no escritório?

- Não, mas parece que não tenho muitas alternativas.

- Está enganado Joe. Sempre existem alternativas.

- Não para mim!

- Escute, sou uma mulher adulta. Não preciso de sua companhia só porque sente que tem o dever de acompanhar-me. Sei cuidar de mim mesma e tenho certeza de que encontrarei um homem que queira ir comigo. 

- Já disse que eu vou.

- Oh, sim, e mostrou tanto entusiasmo quanto na última vez em que foi ao dentista. Esqueça, isso Joe.

- Demi, vamos esclarecer esse assunto de uma vez por todas. Eu vou com você!

- Quer mesmo ir? Não se importa por ter de dividir um quarto comigo? Podemos nos revezar. Numa noite eu durmo na cama e você no chão. Na outra, trocamos de lugar. Sei que fingir que somos um casal não vai ser muito divertido, mas a praia terá toda a diversão que precisamos.

- Não precisa convencer-me de nada. Já disse que vou com você.

- Tem certeza?

- Absoluta!

- Bem, se é assim... Estava mesmo pensando que você precisa de folga. É perfeito. Enquanto eu estiver cuidando do meu bronzeado, você poderá ler algo que não seja um processo ou um contrato.

- Talvez leve alguns documentos para examinar.

- Oh, não, nem pense nisso! Vamos sair de férias, você vai relaxar e divertir-se. Quando foi a ultima vez que fez algo pelo simples prazer da diversão?

- O que é diversão nesse caso?

- Não sei. Por que não me diz? O que considera divertido atualmente? Você adorava jogar basquete, mas nunca mais foi a uma quadra.

- Não tenho tempo!

- Também não tem mais tempo para assistir aos jogos no ginásio local. Não encontra os amigos. Não vai à praia para andar, tomar sol ou ficar deitado olhando o céu. Não sai para andar na chuva. Só porque isso, meu caro... é divertido.

- Não acho divertido ficar ensopado. Posso chegar aonde quiser sentado em meu carro e seco.

- Você é incorrigível!

- E você não entende as exigências de minha profissão - Pessoas contavam com ele. Clientes acreditavam em sua eficiência. Não podia abandonar tudo para brincar na chuva. Não tinha tempo para brincar. E passara a ter menos tempo nos últimos meses. Nenhum deles havia mencionado que o desinteresse de Joe por atividades divertidas coincidia com o rompimento com Ashley. De alguma forma, sua ex-namorada estava sempre presente nas conversar que tinha com Demetria, embora não pronunciassem seu nome.

- Então, mude de profissão. - ela sugeriu encolhendo os ombros.

- O que?

- Se tem um trabalho que o envolve a ponto de não deixar tempo para a diversão, escolha outro trabalho. Pode afirmar com sinceridade que gosta do que está fazendo? Levanta-se pela manhã a canta de alegria por não poder esperar pelo inicio de mais um expediente no escritório?

- Demi ninguém gosta tanto assim de um emprego.

Há anos tivera aquela mesma inocência, mas centenas de contratos, reuniões e audiências haviam destruído a idéia de que uma profissão podia ser gratificante a esse ponto. O que fazia era ganhar dinheiro para Ericson e Roberts. E quanto mais dinheiro ganhava, mais casos recebia para poder ganhar mais. Era um círculo vicioso que não conseguia romper.

- Eu gosto! - ela respondeu. Vender e ocasionalmente desenhar vestidos não tem o mesmo glamour de ser um advogado, mas adoro o que faço. - Demetria balançou a cabeça - Esqueça o que eu disse. Vamos pensar apenas em tirá-lo da cidade sem que leve o escritório na mala.

Joe a viu terminar de comer e teve a sensação de ter perdido uma batalha que nem sabia estar disputando. Demetria vencera o 1º turno!


5 pra proxima...
Obrigada Marina e Samy, pelo reconhecimento.
E Lais... OBRIGADA PELO SELINHO!!!
Leiam o blog dela: http://lala-eternamentejemi.blogspot.com.br