sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Capitulo 3


Anteriormente...

Demetria dirigiu-se ao banheiro, e Joe não resistiu ao impulso de acompanhá-la com os olhos, apreciando o movimento sinuoso dos quadris. Sua velha amiga era uma bela mulher. Ele afastou o pensamento. Eram amigos há tanto tempo, que estava acostumado com Demetria. Demetria Devonne Lovato era quase uma irmã. E uma jovem de sorte por não ter insistido na paixão adolescente. Caso contrário, Joe teria arruinado o relacionamento que tinham construído. Tinha um jeito todo especial para agir de maneira errada com o sexo oposto. De fato, ambos tinham muita sorte por não terem ido além de uma simples experiência de respiração artificial...
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Demetria examinou a cômoda que mantinha no banheiro. Jantar com Joe nunca significava comer um sanduíche na lanchonete da esquina, e por isso não podia vestir uma calça jeans. Melhor assim. Adorava vestir-se com mais cuidado. Era quase um vicio profissional. E como funcionária de uma loja de vestidos antigos, tinha diversas oportunidades de exercitar o hobby. E naquela semana cometera um adorável excesso. Comprara o vestido perfeito para aquela noite. A peça chegara à loja na semana anterior, e nada seria melhor para a ocasião. Colocaria em prática o plano que havia traçado com cuidado. O vestido era branco, quase virginal, pelo menos quando estava no cabide. Mas quando o vestira... Demetria sorriu, deixando o tecido macio deslizar por seu corpo e examinando-se no espelho preso à parede. Sim, o vestido que parecera virginal no cabide era pura tentação quando usado sobre um corpo feminino. E naquela noite precisava desempenhar o papel de tentadora para atingi-lo. Sentia-se um pouco culpada pelo que tramava fazer, mas reconhecia a necessidade do uso de subterfúgios... Joe era teimoso demais para o próprio bem. E era apenas o bem dele que tinha em mente. Notara os círculos escuros em torno de seus olhos, um traço que se tornara permanente nos últimos meses, e também havia percebido que o velho amigo perdera alguns quilos. Ainda lamentava o fim se seu último relacionamento. Por isso tinha de superar a culpa e concentrar-se no plano. Talvez não fosse muito honesto, mas era pelo bem de Joe. Ele era teimoso demais para perceber que precisava afastar-se, mas não seria capaz de resistir ao impulso de agir como um herói. Assim, jamais saberia que era ela quem o resgatava. Os sapatos brancos de salto alto completaram o traje. Depois de prender os cabelos num coque simples, perfumar-se e adornar-se com algumas bijuterias e maquiagem leve, decidiu que estava pronta.

- Podemos ir - anunciou entusiasmada ao entrar na sala.

Joe assobiou, e ela girou em torno de si mesma.

- Gostou?

- O que fiz para merecer um vestido como esse?

Ele estava caindo na armadilha. Desempenhando seu papel, Demetria encolheu os ombros.

- Nada. Não é para você. Já que vai me levar a um restaurante, eu quero estar bem. Afinal, sou uma mulher livre e sozinha, e o homem dos meus sonhos pode estar em qualquer lugar. Quero estar pronta para conhecê-lo.

O sorriso de Joe perdeu parte do brilho.

- Pronta... para quê?

- Para qualquer coisa. Ninguém sabe o que vai encontrar quando sai de casa - E dirigiu-se à porta.

- Concordo com você, Dem. Mas não sei se devia apelar para uma publicidade tão... direta.

- O que quer dizer? Meu vestido é muito decente.

Joe mantinha os braços cruzados e a testa franzida.

- Decente não é a palavra que eu teria escolhido para descrever seu vestido.

- Não vou mudar de roupa. Pense bem. Se não conseguir encontrar um namorado esta noite, terei de comer a comida que faço. Não é esse o destino que quer para sua melhor amiga, é?

Ele suspirou e caminhou para a porta. Demetria saiu atrás dele e trancou o apartamento.

- Está com algum outro problema? Quero dizer, algo mais o aborrece, alem do vestido? - Tinha suas suspeitas. Joe enfrentava o mesmo problema há meses - Ashley?

Ele se virou com uma expressão estranha. Depois balançou a cabeça e começou a descer a escada.

- Não há nada de errado. Apenas o cansaço.

- Oh, sim, deve estar exausto - Sorrindo decidiu esconder a preocupação. Afinal, tinha um plano perfeito - Tem trabalhado demais. Não saímos juntos há semanas.

- Você estava namorando, lembra-se?

- Agora não estou mais. E quando quiser falar sobre Ashley, estarei pronta para ouvi-lo.

Para ele havia o trabalho, e depois mais trabalho. Pelo menos era assim desde que Ashley o deixara. Na verdade, seu trabalho no escritório de advocacia Ericson e Roberts sempre havia sido uma prioridade. Durante os cinco anos desde que começara a trabalhar lá, encontrara seu nicho e se esforçara para preservá-lo. Mas desde que o romance com Ashley acabara, não havia apenas se esforçado. Trabalhara como se não houvesse mais nada em sua vida. Demetria o observara impotente, sem saber como confortá-lo ou de que forma convencê-lo a reduzir a carga de trabalho. Trabalhar como um louco era seu jeito de lidar com a perda de Ashley. Ashley... O rompimento era um dos poucos assuntos que o fazia mergulhar no silêncio. Demetria sabia que o amigo ainda estava sofrendo. Era seu trabalho cuidar para que ele se afastasse do escritório por um tempo, o suficiente para recuperar-se. Joe era um homem de vinte e quatro anos de idade à beira de um infarto. E ela era uma mulher de vinte e um disposta a tudo para salvá-lo.

- Vamos lá, garotão, estou faminta! - Ela entrou no carro e ajustou o cinto de segurança.

- Você está sempre com fome.

- Exatamente. E acha justo que, sabendo que deve alimentar-me regularmente, fique aí parado, enquanto a comida está longe daqui?

- Já estamos indo.

Seguiram num silêncio confortável. Demetria sorriu, ao ver que paravam em frente do Bayside Country club, o clube de Joe. Na primeira vez em que ele a levara ali, sentira-se deslocada, mas só até a refeição ser servida. A verdade era que se sentia à vontade onde quer que houvesse boa comida, e o Bayside tinha os melhores pratos de Los angeles.

- Olá Martin - ela cumprimentou o maître

- Ah, Sr. Jonas e a jovem Demetria. Que prazer!

Demetria permitiu que Martin tomasse sua mão para um beijo terno.

- Não temos reservas, e a culpa é toda minha. Ofereci-me para cozinhar pra Joe, e o pobre-coitado ficou tão apavorado que decidiu me trazer aqui.

- Há sempre uma mesa pra vocês aqui - Martin levou-os a um canto mais tranqüilo do salão - Querem pedir um aperitivo?

- Comida, meu caro amigo. Apenas comida. É a única coisa capaz de salvar meu coração partido.

- Mais um namorado perdido? - o maître perguntou a Joe.

- Ela disse que o homem não sabia beijar.

Demetria encarou-o com ar crítico e decidiu oferecer uma explicação.

- Bem, beijar é importante. Mas, pior do que isso, o sujeito não sabia escolher seu jantar.

- Ah, então cometeu um crime imperdoável. E falando em boa comida Vicenzo criou um novo molho para massa que vai fazê-la esquecer todos os problemas.

- Estou tão abalada, que não sei se poderei apreciá-lo de maneira justa. Mas prometo que vou me esforçar.

- E eu vou querer camarão. - Joe anunciou.

- Como sempre senhor. Vou apressar o pedido.

Assim que Martin afastou-se Demetria fez uma careta para Joe.

- Está vendo? Alguém percebe que sofri uma grande perda.

- Foi você quem rompeu o namoro.


Joe sempre tentava fazer um rompimento lógico. O que ele não entendia era que o coração não usava lógica. Não havia como empurrá-lo em uma direção que ele não desejava seguir. Aprendera essa lição no ginásio, depois de um beijo que a fizera entender que ele era mais que um vizinho e um amigo. Infelizmente, o coração de Joe permanecera adormecido. No terceiro ano conhecera Mandy, a chefe de torcida, e depois seguiu em frente com uma longa lista de sucessoras. Observara como Joe tentava analisar o rompimento com Ashley há meses, sem nenhum resultado positivo. Se pudesse conversar com ele sobre o assunto, teria tentado o provar que a mulher nunca foi sua metade ideal. Mas Joe se negava a discutir o fim da relação. E sabia que ele teria que enxergar a verdade por si mesmo. Precisava de tempo e distância, não de discursos. E era aí que seu plano entrava em cena...


- Posso ter sido responsável pelo fim do namoro, mas ainda assim sofri pela perda. E isso me faz lembrar outro problema.

- Problema?

Sentindo que o jogo havia começado, Demetria fez o primeiro movimento.

- Esqueça. Estou certa de que encontrarei alguém disposto a me ajudar. Afinal, você mesmo disse que o vestido é impressionante.

- Eu não disse isso!

Joe, sempre literal e pronto para argumentar. Literal, mas previsível. Apesar da vontade de rir, Demetria manteve o ar aborrecido.

- Não disse? Bem, talvez tenha insinuado. De qualquer maneira, logo descobrirei sozinha o verdadeiro poder de impacto deste vestido. O que acha de eu ir ao bar enquanto esperamos pelo jantar? Talvez eu encontre alguém disposto a me ajudar.

- Demi, babe, você sabe que a ajudarei, se puder.

- Não. Sou perfeitamente capaz de resolver meu problema sozinha. Sabe que odeio importuná-lo com minhas pequenas dificuldades.

- Demi... - Havia uma nota irritada na voz dele.

- Por que insiste em agir como se eu fosse uma perfeita incapaz? Sou uma mulher adulta. Tenho certeza de que encontrarei uma solução satisfatória para tudo isso.

- Demi...

- Teria encontrado uma forma de remover toda aquela cera sem sua ajuda. Não quero mais incomodá-lo com meus problemas.

- Afinal, qual é o problema? - ele perguntou impaciente

- Não precisa gritar comigo!!

- Me desculpe.

- Tudo bem - ela choramingou

Joe inclinou-se e tocou seu queixo com a ponta do dedo.

- Agora me diga, que problema é esse?

4 pra proxima...

OBRIGADO PELOS COMENTÁRIOS!!!

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Capitulo 2

Anteriormente...

- Sinto muito. Estavam namorando há quase um ano, não? O que aconteceu?

- Ontem à noite, quando fomos jantar, percebi que éramos incompatíveis.

Joe  puxou mais uma tira de cera, e dessa vez Demetria contentou-se com um olhar furioso.

- Por quê?

- Ele também pediu fetuccine.

Estava habituado à lógica distorcida da velha amiga. Era um advogado, e passava o dia todo vasculhando montanhas de argumentos em busca da verdade. Mas, com Demetria, o exame de palavras e frases era sempre mais difícil.

____

- E daí?

- Percebi que você teria pedido camarão - ela respondeu.

Nesse ponto ela estava certa. Adorava camarão. Mas o que sua preferência pessoal tinha em comum com o fim do relacionamento com Chad?

- Não entendi..

- Quando você pede camarão, sempre roubo um ou dois do seu prato. Assim tenho o melhor dos dois pratos: meu fetuccine e seu camarão. É como quando vamos ao cinema. Chad nunca comprava jujubas, e eu era forçada a comprá-las junto com os bombons de licor que eu adoro, e comecei a sentir medo de engordar muito.

Joe removeu mais duas faixas numa sucessão rápida.

- Aiiii! Está se divertindo, não é?

-  A outra perna - e preparou-se para a segunda etapa da tarefa. - Em resumo, terminou um relacionamento de um ano porque Chad pediu o prato errado?

Demetria balançou a cabeça e corou. Joe acostumara-se a muitas coisas ao longo dos anos, mas vê-la ruborizar não era uma delas.

- Não. Eu rompi o namoro porque, enquanto ele se despedia com um beijo de boa noite, um beijo patético, devo acrescentar, notei que você não é do tipo que dá beijos patéticos. Não que esteja pedindo para beijar-me. O fato é que um dia quero encontrar um homem que beije tão bem quanto você e saiba como escolher o jantar. Coisas assim...

Joe  parou no meio de uma tira de cera.

- Ei! Acabe logo com isso! Ficar esperando faz a dor parecer ainda maior e...Ai! Droga! Por que os homens podem ter pernas cabeludas? Não é justo!

- Quando me beijou? - Joe quis saber, ignorando as queixas. Não se lembrava de tê-la beijado. Fora chutado por ela, esfolado, arranhado, trancado em um armário de limpeza da escola... Mas um beijo? Não, um beijo não era algo que um homem pudesse esquecer.

- Joe! Estou ofendida! No laboratório de química. Eu estava no primeiro ano do curso, você no último... Eu misturava substâncias e meu experimento explodiu. Desmaiei de susto. Estava lá, caída no chão, e quando abri os olhos você estava debruçado sobre mim, beijando-me como nos filmes do cinema. Fiquei arrasada, certa de que não sabia beijar. Quando você foi para a universidade, passei um ano inteiro praticando, esperando recebê-lo com um beijo de verdade quando voltasse para casa.

Joe  arrancou três faixas de cera sem parar para respirar.

- Agora está sendo cruel!

- Aquilo não foi um beijo. - Mantendo a voz baixa, tentava livrar-se da tensão e da frustração - Foi uma técnica de respiração artificial.

Era ofensivo saber que Demetria o julgava capaz de beijar daquele jeito! Lembrava-se dos rapazes com quem ela saíra durante seu primeiro ano de universidade, como odiava ouvir os pais dela falando sobre cada um dos namorados. Demetria jamais os mencionava quando conversavam, e agora entendia porque. Ela pensava estar praticando...

Demetria o encarou por alguns segundos antes de começar a rir. Momentos antes estivera soluçando em seu lenço, e agora secava as lágrimas provocadas pelas gargalhadas.

- Está dizendo que eu passei um ano treinando para saber corresponder quando fizesse respiração boca-a-boca?

- Demi...

- Imaginava ser a pior de todas, mas Alex Bechet disse que eu era a melhor que ele já havia beijado. Lembra-se de Alex? Ele beijou metade da escola. Então compreendi que você me chamava de criança porque era assim que me via. A criança da casa vizinha. Quase uma irmã caçula. Além do mais, naquela época você estava com Mandy. Depois foi a vez de Camille, Dulce, Blanda, Ashley... - Ela parou de falar e fitou-se com piedade. - Desculpe.  Enfim, acabei desistindo. No final, fiquei feliz por não ter continuado com a perseguição. Você é o melhor amigo que uma garota pode ter. Quem mais iria correr comigo aos domingos?

- Aquilo não é uma corrida. É uma orgia alimentar - E puxou a última faixa de cera.

- Uau! Nunca mais me esquecerei da dor que senti. É melhor que o resultado dure seis semanas, como diz a embalagem, ou vou processar o fabricante.

Joe  a encarava em silêncio. Demetria o perseguira? Quando ela se mudara para a casa vizinha, ainda eram jovens demais para vê-la como uma menina. Era apenas a filha do vizinho. Depois, com o passar do tempo, tornaram-se amigos. Apenas amigos. E eles ainda eram amigos. Se Demetria o perseguira, não chegara muito perto. E não insistira muito. Ela estivera sempre ao seu lado, pronta para ouvi-lo, pedindo sua ajuda, ajudando-o, embora nem imaginasse quantas vezes seu coração generoso acalmara o dele, especialmente nos últimos meses desde que Ashley... Melhor nem pensar nisso. Não queria lembrar. Odiava encarar o fracasso. A longa relação de nomes que Demetria acabara de citar provava um fato: era um fracasso com as mulheres. Cinco romances sérios desde o colegial e nenhum deles havia durado. Julgara ter finalmente encontrado a alma gêmea com Ashley. Planejara casar-se com ela e formar uma família, mas o sonho morrera.

- Joe? - ela se levantou sorrindo - Vou preparar o jantar - Havia um convite implícito no comentário. Ou seria um aviso? Contendo um gemido ele pensou depressa. Demetria e cozinha eram coisas que não combinavam. Demetria e indigestão eram quase sinônimos.

- Já que suas pernas estão lisas e macias, por que não vamos exibi-las em algum restaurante? Prometo pedir camarão.

O alivio era evidente em seu rosto. Demetria odiava cozinhar.

- Estava mesmo esperando que convidasse. Agora que estou novamente sem namorado serão muitas as noites que passarei em casa, comendo a comida que faço. Sabia que isso é um incentivo pra que eu procure logo outro rapaz interessante?

- Posso imaginar.

- Bem, vou mudar a roupa. Não posso sair vestida assim.

- Não... Ei, essa camiseta é minha? - Agora que o problema fora resolvido Joe retomava o velho habito de provocá-la. Na verdade, irritá-la com a questão da camiseta tornara-se quase um ritual. Ambos sabiam que ele jamais a teria de volta. Como se nem houvesse percebido o que usava, ela abaixou a cabeça e arregalou os olhos.

- Ei, você tem razão. Eu a devolveria agora, mas prefiro lavá-la primeiro. Na semana que vem você a terá de volta.


Demetria dirigiu-se ao banheiro, e Joe não resistiu ao impulso de acompanhá-la com os olhos, apreciando o movimento sinuoso dos quadris. Sua velha amiga era uma bela mulher. Ele afastou o pensamento. Eram amigos há tanto tempo, que estava acostumado com Demetria. Demetria Devonne Lovato era quase uma irmã. E uma jovem de sorte por não ter insistido na paixão adolescente. Caso contrário, Joe teria arruinado o relacionamento que tinham construído. Tinha um jeito todo especial para agir de maneira errada com o sexo oposto. De fato, ambos tinham muita sorte por não terem ido além de uma simples experiência de respiração artificial...


4 pra proxima...

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014


Capitulo 1


  Joseph Jonas saltava os degraus da escada que levava ao apartamento de Demetria Lovato, praguejando contra o espírito boêmio que a levara a alugar um imóvel no 5º andar de um edificio sem elevador.

- Demi! - chamou preocupado enquanto batia na porta.

Ela telefonara pouco antes dizendo estar encrencada e precisando de socorro urgente. A viagem de quinze minutos fora uma agonia, porque não tinha idéia do tipo de problema em que a velha amiga se metera dessa vez.

- Estou indo - respondeu uma voz feminina

A porta se abriu. Metade dos cabelos castanhos de Demetria estavam presos num rabo de cavalo, e a outra metade caia solta pela nuca. O robe desbotado cobria sua velha camiseta de futebol, uma peça que ela tomara emprestada no ginásio e nunca mais devolvera. Sempre que Joe pedia a camiseta, Demetria respondia que ela estava suja e que a devolveria depois de lavá-la. Mais de 10 anos se passaram. Ou ela tinha os piores hábitos de higiene que um ser humano pode ter, ou pretendia ficar com a camiseta. Demetria parecia estar bem. Um pouco nervosa, mas era só isso. E depois de todas as possibilidades assustadoras que haviam passado por sua cabeça, uma velha camiseta de futebol não era totalmente uma preocupação.

- Tudo bem? - Joe entrou no apartamento, fechou a porta e deixou o paletó sobre uma cadeira antes de ir sentar-se no sofá - Parece pálida. Ela sentou numa almofada vizinha.

- Desta vez estou mesmo encrencada - disse - Por que estou sempre me metendo em confusões? Tenho quase 22 anos, um emprego bem remunerado, sucesso profissional... Lavander Brown aprovou o vestido que criei para vesti-la na entrega do premio em Tenessee, é minha maior encomenda. Selena esta quase tão animada quanto eu, ia telefonar para você esta noite e contar tudo, talvez ate convidá-lo para uma celebração... Não sei como essas coisas acontecem. Tomo minhas vitaminas todos os dias, corro dez quilômetros todos os domingos...

Joe  ergueu uma sobrancelha. Estivera com Demetria em mais de uma dessa corridas. Ela riu..

- Tudo bem, caminho depressa...

- E pára em todas as barracas de cachorro-quente e lojas de doce no caminho.

- Mas pelo menos caminho. E não é esse o ponto. Quero dizer que não sou nenhuma idiota, cuido de minha saúde, e mesmo assim...

- O que foi desta vez?

- Isto - ela abriu o robe com um movimento teatral, apoiando as pernas sobre a mesa de café. Estavam cobertas por... alguma coisa.

- Mas o que...? Demi, o que foi que fez agora?

Podia ver as lagrimas em seus olhos e foi tomado por uma onde de compaixão.

- Vou para a praia no próximo final de semana para cuidar do meu bronzeado - ela respondeu como se a afirmação explicasse tudo.

- E daí?

- Bem, não queria pernas peludas! Quero dizer, sou morena! Era de se esperar que os pêlos de minhas pernas existissem, mas que fossem finos diferente dos cabelos que cobrem minha cabeça. Infelizmente tenho pêlos pretos e grossos. Uso a lâmina de barbear todas as manhãs, e no final da tarde já posso sentir a pele áspera e ver aquela horrível sombra escura. É embaraçoso. Por isso decidi usar cera depilatória. - Joe tirou um lenço do bolso e entregou-o á amiga, que chorava copiosamente. Ela assoou o nariz de maneira pouco delicada ou feminina.

- Então decidiu depilar as pernas! E daí? O que há de errado nisso?

Um soluço brotou de seu peito.

- Dói! Tirei a primeira faixa de cera e pensei que fosse desmaiar de dor. Agora não tenho coragem para tirar o restante. Passei a tarde toda sentada, tentando reunir forças, mas sinto-me incapaz de prosseguir.

- E quer que eu termine pra você? - a apreensão desapareceu por completo.

Joe sentiu os lábios distendidos, embora tentasse conter o riso. Sabia que Demetria acabaria vendo o humor da situação, mas não enquanto o momento não passasse.

- Não pensei que pudesse ser pior do que quando pedi sua ajuda para recuperar meu anel de formatura - ela disse.

- Nada pode ser tão terrível! - A lembrança era clara, embora tentasse enterrá-la de vez. O animal de estimação de Demetria, um gato chamado Muff, havia comido seu anel de formatura do ginásio, e o veterinário dissera que eventualmente a jóia seria expelida. Joe  passara boa parte da semana examinando os... restos alimentares do gato em busca do anel. Demetria jurava ficar enjoada com a tarefa, e os pais dela se recusaram a ajudá-la.

- Você finalmente o encontrou - recordou ela com tom triunfante. O sorriso radiante quase compensava a tarefa - E até limpou o anel para mim.

- Mas você nunca mais voltou a usá-lo!

- E você teria usado? - Os soluços transformaram em uma gargalhada.

Essa era uma das características de Demetria, ela nunca conseguia decidir-se por um estado de espírito. E quando estava com ela, o humor de Joe  oscilava com a mesma rapidez. Demetria envolvia-se em situações ridículas e esperava que ele a ajudasse. Depois, de alguma forma, conseguia fazê-lo sentir-se uma espécie de cruzamento entre um cavaleiro medieval e bobo da corte.

- Então acredita que tirar a cera de suas pernas será mais fácil do que explorar os restos das refeições de Muff?

- Para você, não para mim. Não imagina como dói. - ela se moveu no sofá e colocou a perna direita sobre os joelhos de Joe - Imaginei que seria mais fácil se conversássemos e você puxasse a cera quando eu menos esperasse e... Ai! - Demetria removeu a perna e massageou a região dolorida. Ele jogou a fita de papel coberta por cera e pêlos sobre a mesa de café.

- Não disse que eu devia puxar quando não estivesse esperando?

- Mas tinha de esperar que eu estivesse distraída - E devolveu a perna no local de origem, sobre os joelhos do amigo. Ele massageou a região irritada.

- Hmm, ok, me desculpe! Lembra-se de quando tinha 10 anos e decidiu que era capaz de pular do trampolim?

- E daí? Podia ter dado certo.

- Se você houvesse pulado. Saltar da plataforma e agarrar-se nela não foi exatamente uma boa idéia. Você ficou pendurada lá em cima...

- Tive medo de cair com muita força e quebrar alguma coisa.

- Por isso ficou gritando para que eu a ajudasse a descer. - Joe removeu outra faixa de cera.

- Ai! Devia tê-lo chutado com mais força.

- Usou força suficiente para quebrar meus óculos - Ele removeu mais uma tira.

- Ei, está indo depressa demais. Não tive tempo para recuperar-me da última faixa de cera.

- Desculpe-me. Mas já que estamos quase terminando esta perna. Alguma novidade?

- Desde ontem, quando conversamos pela última vez? Vejamos... Oh sim, terminei com Chad.

Joe  nunca havia gostado do sujeito. Ele tinha olhos cinzentos e um hábito persistente de brincar com os cabelos de Demetria. Não sabia porque, mas o gesto o irritava. Mesmo assim, tentou parecer solidário.

- Sinto muito. Estavam namorando há quase um ano, não? O que aconteceu?

- Ontem à noite, quando fomos jantar, percebi que éramos incompatíveis.

Joe  puxou mais uma tira de cera, e dessa vez Demetria contentou-se com um olhar furioso.

- Por quê?

- Ele também pediu fetuccine.

Estava habituado à lógica distorcida da velha amiga. Era um advogado, e passava o dia todo vasculhando montanhas de argumentos em busca da verdade. Mas, com Demetria, o exame de palavras e frases era sempre mais difícil.


5 pra proxima...



Descrição:
We should be...


Eles sempre foram amigos desde a infância, mas o tempo passa e as situações se modificam. Joe havia terminado com a namorada e Demetria tentava tira-lo dos casos do escritório de Advocacia em que trabalhava, para que relaxasse. Será que ela poderia conseguir? E o que vai acontecer se essas férias de uma semana acabar modificando também o que eles sentem um pelo outro?