domingo, 25 de maio de 2014

Capitulo 6

Anteriormente...

- Porque mentiu?

- Porque jamais teria permitido que eu gastasse dinheiro com você, embora tenha sido uma oferta especial, porque é mui... muito antiquado. Mas eu sabia que precisava sair da cidade. Então, quando Selena me deu o dinheiro e você concluiu seu caso, soube que estava recebendo um sinal - Ela riu novamente e grandiu o dedo diante do nariz - Sei que não acredita em sinais, mas está errado. Houve um tempo em que também não acreditava na influencia negativa numa 6ª feira treze. De qualquer maneira, nunca perceberá quando foi manipulado, porque é um homem, eu sou uma mulher, e isso me torna mais ardilosa.
___


  Demetria acordou com um ruído estranho. Alguém estava matando um gato em algum lugar, pensou sonolenta. Por que alguém haveria de assassinar um pobre gatinho, e por que o faria de maneira tão ruidosa? Abriu um olho, uma tarefa difícil, porque as pálpebras pareciam estar coladas. A luz a cegou, mas o barulho a fez ignorar o desconforto. Demetria abriu o outro olho. Onde estava? Essa era a primeira coisa que precisava descobrir. E a segunda era quem fazia aquele barulho terrível. Olhou em volta, notou que estava em um quarto e lembrou... estava de férias em Amore Island... O que significava que o barulho terrível só podia ser... Joe que estava cantando Opera. Ou tentando cantar Opera. Infelizmente, não estava se esforçando muito. Mesmo assim, ela sorriu. Joe cantando Opera, ou pretendendo cantar, só podia significar uma coisa: ele havia relaxado. Por isso montara um plano elaborado, para afastá-lo do trabalho ajudá-lo a esquecer os problemas. E pelo visto obtinha resultados positivos. Oh, sim, tinha um divida de gratidão com Chad. Ele oferecera a desculpa que ela precisava.
  Demetria sentou-se, mas voltou a deitar-se com rapidez espantosa. O que Joe fizera com ela? Lembrava-se vagamente de estarem prestes a sofrer um acidente aéreo. Joe sugerira um drinque... e tudo começou a ficar confuso a partir dessa lembrança. Imagens nubladas sobrepunham-se numa sucessão sem sentido. O rosto da comissária de bordo, o de Joe, Ashley... Ashley? Não. Devia ter sofrido uma alucinação. Levara Joe para a ilha a fim de fazê-lo esquecer Ashley. Talvez o avião houvesse mesmo caído e estivesse ferida. Isso explicaria a dor de cabeça. Concussão. Não, a dor de cabeça devia ser resultado do excesso de álcool que tomara graças ao incentivo de Joe. Tinha lembranças confusas de sua chegada ao hotel. Recordava-se de um saguão com uma cachoeira... Seria possível existir uma cachoeira no saguão do hotel... ou também teria alucinado essa parte? Demetria examinou melhor o conteúdo da memória. Fora carregada por Joe. Depois ele havia desabotoado sua blusa... A dor de cabeça ganhou intensidade e ameaçou roubar-lhe as forças. O que fizera? Melhor ainda, o que Joe havia feito com ela enquanto estava embriagada? Espiou sob as cobertas e sentiu-se enjoada. Gemendo, Demetria fechou os olhos e lamentou as conseqüências da excessiva ingestão de álcool. Deixara o melhor... bem, não deixara. E nem ele era seu melhor amigo, ou não seria responsável pelo estado em que se encontrava. A lamentável  tentativa de cantar Opera chegou ao fim, e o objeto de sua reflexão surgiu de trás de uma porta.

-  Ah, está acordada - ele apontou com um sorriso que a desarmou.

-  O que você fez?

Joe franziu a testa.

-  Como assim?

Ela olhou sob as cobertas novamente para ter certeza do que ia dizer.

-  Combinamos que dormiríamos no mesmo quarto, mas ninguém disse que ficaríamos na mesma cama. Onde estão minhas roupas, e em que estava pensando quando... quando.. - Não podia concluir a frase. Pensar no que haviam feito, nas implicações do incidente para a velha amizade... Era terrível demais para que pudesse expressar com palavras.

-  Fale, Demi. O que está pensando?

Sentia o rubor que tingia seu rosto e não podia fazer nada para evitá-lo. O embaraço alimentou a ira.

-  Quando fez o que quis comigo.

-  Não fiz nada do que está insinuando.

-  Fez. Lembro que me trouxe para o quarto e desabotoou minha blusa.

-  Mas não se lembra de ter gritado que era capaz de despir-se sozinha? Nem de ter unido a ação às palavras?

Sem desvia os olhos dele, Demetria balançou a cabeça.

-  Nem se lembra de que eu saí do quarto enquanto você tirava a roupa?

Mais uma vez, ela balançou a cabeça.

-  Ou de que retornei meia hora mais tarde e dormi no chão, sobre um cobertor?

O alívio era como uma onda quente invadindo suas veias. Ele não... ele não...

-  Desculpe. O problema é que acordei com a sensação de que aquele maldito avião havia pousado sobre minha cabeça, e tudo era muito estranho... Irreal. Então descobri que estava nua e...

-  Tudo bem, está perdoada - Joe respondeu com simplicidade. Com muita simplicidade - Por que não toma ducha e os dois analgésicos que deixei sobre a bancada do banheiro. Quando terminar, o café já estará aqui.

Pensar em comida fez seu estômago enfrentar uma turbulência pior do que tudo que havia experimentado no dia anterior.

- Duvido que eu consiga comer.

- Vai se sentir muito melhor com o estomago cheio. Confie em mim!

Demetria não acreditava que pudesse sentir-se bem algum dia, mas não discutiu com Joe.

- Vire-se de costas para que eu possa correr para o banheiro.

- Certo - ele concordou, olhando para o oceano além das portas de vidro.

- Não tente espiar - Demetria o preveniu, enrolando-se no lençol que arrastou para o banheiro.

- Juro que não.

Ela se moveu tão depressa quanto permitia a cabeça latejante, sem se dar conta de que Joe podia vê-la refletida no vidro. Sua atitude não havia sido de um cavaleiro, mas não conseguia se conter. Ela fora tão confiante ao longo da noite! Ainda lembrava da sensação de tê-la nos braços a caminho do hotel, no táxi e até no quarto, e havia sido uma sensação muito agradável. Pensara muitas coisas sobre Demetria ao longo dos anos, mas ela sempre fora uma amiga. Uma donzela que ocasionalmente resgatava no papel de cavaleiro medieval. Nunca pensara nela como mulher, como alguém com quem pudesse ter um relacionamento íntimo. Na noite anterior havia percebido que Demetria era uma mulher, e desde então não conseguia pensar em outra coisa.

Uma hora mais tarde, já sob o efeito do analgésico e do estomago cheio, Demetria sentia-se viva outra vez.

- O que faremos hoje? - Joe perguntou

Ela estava sentada à mesa ao lado da janela. A vista do quarto era maravilhosa. Céu azul, água cristalina banhando a areia branca... Um paraíso à disposição deles.

- A ideia é não fazer nada - disse

- Ninguém pode passar o tempo todo fazendo nada.

- Eu posso - Sempre tivera a sensação de que faltava algo nela. Não tinha grandes ambições, nem sonhava ser milionária. Adorava criar vestido, desenhá-los e até costurá-los, mas nunca imaginara seu nome nas passarelas de Nova York ou Paris. Estabelecer-se no mercado de LA era tudo que esperava conseguir. Mas, quando não estava na loja, não só conseguia ficar sem fazer nada, como apreciava o ato.

- Muito bem, onde vamos fazer nada? - Joe persistiu, o tom indicando que ainda não a levava a sério.

- Na praia, é claro. De que adianta viajar a uma ilha paradisíaca e ficar fazendo nada no quarto? - Oh, sim, Joe aprenderia uma ou duas lições sobre a arte de não fazer nada. Ela estava trabalhando como um louco desde que Ashley partira, e já era hora de parar. Enquanto ainda podia. Pensar em Ashley a fez franzir a testa. Não só o faria relaxar, como o faria rir novamente. Tomaria providências para isso.

- Bem, se vamos à praia fazer nada, então estaremos fazendo alguma coisa - o eterno advogado era incapaz de resistir ao chamado de uma boa argumentação - Você vai tomar sol, eu vou ler...

- Espero que tenha trazido boa literatura, porque se tentar levar um único processo que seja para aquela praia, juro que não serei responsável por meus atos.

- Fique tranquila. Trouxe apenas livros voltados para o lazer, conforme ordenou, senhorita - Ele a provocava... ria como um tolo e tentava irritá-la com suas brincadeiras bobas, como se ainda estivessem no ginásio. E Demetria adorava isso.

- Sorte sua!

- Eu não ousaria desobedecê-la. Notei o brilho em seus olhos quando anunciou as regras do jogo.

- Eu não anuncio regras. Apenas faço sugestões... às vezes com veemência. E de que brilho está falando?

- Oh, você sabe! Sempre tem a mesma expressão quando está determinada a impor seu ponto de vista. De qualquer maneira, trouxe apenas bons livros e nenhum processo.

- Ótimo, que tipo de livros?

- Contos sobre o velho oeste. - Ele apontou uma arma imaginária em sua direção e ajeitou um chapéu também imaginário.

Demetria riu.

- Que autor escolheu?

- John Legg. Ele sempre foi meu preferido. Mesmo quando está escrevendo sob um pseudônimo, tento encontrar sua obra. Há alguns anos, não tenho lido nada além de contratos e processos, e por isso saí procurando pelos livros que havia deixado de comprar.

- Deixou de fazer muitas coisas nos últimos anos, especialmente nos últimos meses - Percebendo que assumia o tom de voz de uma mãe severa repreendendo o filho pequeno, decidiu recuar - Mas esta semana será diferente - Sorrindo, tentou suavizar a voz e conter o impulso de dar algumas ordens. Joe tinha uma tendência para tornar-se defensivo quando acreditava estar perdendo o controle - Vamos nos divertir!!

- Vamos?

- Oh, sim! Considere essa semana como um curso intensivo. A lição de hoje será: Como fazer nada e divertir-se muito com isso.

- Parece complicado...

- É muito simples. Só exige um frasco de bronzeador, alguns livros e duas toalhas.

- E os trajes de banho? Por acaso são opcionais nessa praia?

- Mesmo se fossem nos usaríamos os nossos.

- Oh... - Joe suspirou desapontado - Você sabe como arruinar as chances de diversão de um homem.

- Sempre ouvi dizer que é bom manter uma dose de mistério. Por que não aproveita para olhar as mulheres na praia? - Era maravilhoso. Joe estava brincando, relaxado e feliz. O plano estava funcionando.

- Quer que eu aprenda a divertir-me, e a primeira lição será olhar pras mulheres na praia? Uau! Estou começando a gostar dessa viagem.

- Eu disse olhar, não tocar. Lembre-se de que este é um hotel para casais, e todas as pernas, e outras partes que quiser admirar, estarão ligadas não só a um corpo, mas a outro corpo que pertencerá a um homem.

- Desmancha-prazeres.

- Realista! - Nem sempre fora assim. No ginásio tivera grandes sonhos. Mas, ao longo dos anos, descobrira que nem todos poderia ser realizados, e assim também aprendera a aceitar a vida como ela se apresentava. De repente lembrou-se da etiqueta Demetria Lovato que estaria esperando por ela quando retornasse das férias. Talvez alguns sonhos fossem possíveis. Olhou para o homem de cabelos escuros perto dela. Talvez ele se curasse do rompimento com Ashley, e então outros sonhos teriam uma pequena chance.

- Ei, você é a pessoa menos realista que conheço.

- Não sou!

- Demetria, você nunca viveu no mundo real.

Ela se virou de costas. Era inútil discutir. Joe sempre a considerara incurável e duvidava de que algo pudesse mudar esse ponto de vista. Para ser honesta, não desejava mudá-lo. Quem era ela para negar a um grande amigo o prazer de bancar o cavaleiro medieval?
Permitiria que ele a resgatasse. Joe nunca enxergara a realidade, e não pretendia explicá-la àquela altura do campeonato. Era quase egoísta. Se ele a resgatasse, ao menos estaria em sua vida de alguma maneira. Ashley deixara claro que ela não era mulher o bastante para ameaçá-la. Joe nunca a vira desta forma. Era apenas uma parceira, alguém com quem podia passar o tempo quando Ashley partia em uma de suas constantes viagens. E por mais que a atitude de irmão mais velho a incomodasse as vezes, Demi aprendeu a suportá-la.

- Venha, estamos perdendo tempo - disse

- Pensei que o objetivo fosse justamente desperdiçar o tempo.


- Na praia. Vamos perder nosso tempo na praia, está bem? 

__

   No final da tarde, Demetria olhou-se no espelho do banheiro. Fazer nada era mais perigoso do que havia imaginado.

-  E então, vai passar a noite ai dentro? - Joe perguntou do outro lado da porta.

-  Talvez - sentada na beirada da banheira, olhou para as roupas que deixara sobre a bancada. Não podia vesti-las e também não podia sair dali sem elas. A nudez da noite anterior havia sido compreensível, mas não pretendia adquirir o hábito de ficar nua perto de Joe.

-  Não pode ser tão ruim - ele insistiu.

Demetria soluçou e limpou o nariz com um lenço de papel.

-  É pior!

Olhou para as roupas. Preferia sentir dor a passar o resto da viagem trancada no banheiro. Não conseguiria vestir o sutiã sobre a pele queimada de sol, mas a camiseta causou um sofrimento suportável. Talvez tivesse motivo para ficar feliz com a ausência de certos atributos. Ninguém notaria que estava sem sutiã, ou sim, que seja. Decidindo que a calcinha seria igualmente intolerável, vestiu os shorts folgado e respirou fundo.

-  Usou a loção que lhe deram na enfermaria, Demi?

-  Mais ou menos

-  Como assim?

-  Não consegui alcançar todos os lugares

-  Ah... precisa de ajuda?

Ela abriu a porta.

- Você nem ficou vermelho! - acusou-o ressentida

- Você sabe que nunca me queimo.

- Não parece justo...

- Vamos, me dê a loção.

Demetria entregou o frasco e virou-se

- Não consegui alcançar o meio das costas. Espalhei o creme no alto e embaixo, mas nem todo o contorcionismo do mundo foi suficiente para que meus dedos tocassem a área central. - Erguendo a metade posterior da camiseta, segurou a outra parte sobre o umbigo.

- Não está usando sutiã?

- É claro que não. Sei que às vezes sou meio esquisita, mas nunca fui masoquista. Tem idéia do que aquelas alças teriam feito comigo?

Joe espalhou a loção sobre a pele queimada e espalhou-a devagar, fingindo não ouvir o suspiro de alivio que escapou da garganta de Demetria. Devagar, continuou massageando toda a região avermelhada. Demetria sabia que não suspirava de alivio. Ao longo dos anos, aprendera a esquecer que Joe era seu ideal de homem, mas em momento como aquele, tudo era mais difícil. Sentia-se culpada por conta do sentimento. Joe estava sofrendo, trabalhando como um lunático, e ela se deixava consumir pela luxúria. Era melhor nem pensar nisso. Todos os outros homens com quem saíra haviam sido comparados a Joe, e nenhum deles passara no teste. Começara a desejá-lo no ginásio com a intensidade típica da adolescência. Depois, já adulta, esquecera a paixão e concentrara-se na amizade. Mas quando as mãos acariciavam suas costas... Bem, esquecia de esquecer e voltava a arder de desejo. Droga! Por que tinha de torturar-se daquela maneira?

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5 pra próxima...

5 comentários:

  1. COMO OUSA PARAR NESSA PARTE? pode vir postar mais um capitulo, demorou mto, temos que ser recompensadas agora u.u

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  2. Supimpa! Adorei! Manda mais logo

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  3. Amando! Está Perfeito! Posta Logo! bjinhoos!

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  4. Será que poderia dar uma olhada a um blog de fics jemi?
    A escritora regressou com nova história e não tem comentários.
    É esse o link: historiasdasilvia.blogspot.pt/
    Obrigada.

    Beijos.

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  5. Pq essas autoras de fanfic sempre param nessas partes hein?! Amo sua fic poste logo viu este é o quinto comentário haha
    Aqui é a @Sammy_Lovato do tt

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