quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Capitulo 2

Anteriormente...

- Sinto muito. Estavam namorando há quase um ano, não? O que aconteceu?

- Ontem à noite, quando fomos jantar, percebi que éramos incompatíveis.

Joe  puxou mais uma tira de cera, e dessa vez Demetria contentou-se com um olhar furioso.

- Por quê?

- Ele também pediu fetuccine.

Estava habituado à lógica distorcida da velha amiga. Era um advogado, e passava o dia todo vasculhando montanhas de argumentos em busca da verdade. Mas, com Demetria, o exame de palavras e frases era sempre mais difícil.

____

- E daí?

- Percebi que você teria pedido camarão - ela respondeu.

Nesse ponto ela estava certa. Adorava camarão. Mas o que sua preferência pessoal tinha em comum com o fim do relacionamento com Chad?

- Não entendi..

- Quando você pede camarão, sempre roubo um ou dois do seu prato. Assim tenho o melhor dos dois pratos: meu fetuccine e seu camarão. É como quando vamos ao cinema. Chad nunca comprava jujubas, e eu era forçada a comprá-las junto com os bombons de licor que eu adoro, e comecei a sentir medo de engordar muito.

Joe removeu mais duas faixas numa sucessão rápida.

- Aiiii! Está se divertindo, não é?

-  A outra perna - e preparou-se para a segunda etapa da tarefa. - Em resumo, terminou um relacionamento de um ano porque Chad pediu o prato errado?

Demetria balançou a cabeça e corou. Joe acostumara-se a muitas coisas ao longo dos anos, mas vê-la ruborizar não era uma delas.

- Não. Eu rompi o namoro porque, enquanto ele se despedia com um beijo de boa noite, um beijo patético, devo acrescentar, notei que você não é do tipo que dá beijos patéticos. Não que esteja pedindo para beijar-me. O fato é que um dia quero encontrar um homem que beije tão bem quanto você e saiba como escolher o jantar. Coisas assim...

Joe  parou no meio de uma tira de cera.

- Ei! Acabe logo com isso! Ficar esperando faz a dor parecer ainda maior e...Ai! Droga! Por que os homens podem ter pernas cabeludas? Não é justo!

- Quando me beijou? - Joe quis saber, ignorando as queixas. Não se lembrava de tê-la beijado. Fora chutado por ela, esfolado, arranhado, trancado em um armário de limpeza da escola... Mas um beijo? Não, um beijo não era algo que um homem pudesse esquecer.

- Joe! Estou ofendida! No laboratório de química. Eu estava no primeiro ano do curso, você no último... Eu misturava substâncias e meu experimento explodiu. Desmaiei de susto. Estava lá, caída no chão, e quando abri os olhos você estava debruçado sobre mim, beijando-me como nos filmes do cinema. Fiquei arrasada, certa de que não sabia beijar. Quando você foi para a universidade, passei um ano inteiro praticando, esperando recebê-lo com um beijo de verdade quando voltasse para casa.

Joe  arrancou três faixas de cera sem parar para respirar.

- Agora está sendo cruel!

- Aquilo não foi um beijo. - Mantendo a voz baixa, tentava livrar-se da tensão e da frustração - Foi uma técnica de respiração artificial.

Era ofensivo saber que Demetria o julgava capaz de beijar daquele jeito! Lembrava-se dos rapazes com quem ela saíra durante seu primeiro ano de universidade, como odiava ouvir os pais dela falando sobre cada um dos namorados. Demetria jamais os mencionava quando conversavam, e agora entendia porque. Ela pensava estar praticando...

Demetria o encarou por alguns segundos antes de começar a rir. Momentos antes estivera soluçando em seu lenço, e agora secava as lágrimas provocadas pelas gargalhadas.

- Está dizendo que eu passei um ano treinando para saber corresponder quando fizesse respiração boca-a-boca?

- Demi...

- Imaginava ser a pior de todas, mas Alex Bechet disse que eu era a melhor que ele já havia beijado. Lembra-se de Alex? Ele beijou metade da escola. Então compreendi que você me chamava de criança porque era assim que me via. A criança da casa vizinha. Quase uma irmã caçula. Além do mais, naquela época você estava com Mandy. Depois foi a vez de Camille, Dulce, Blanda, Ashley... - Ela parou de falar e fitou-se com piedade. - Desculpe.  Enfim, acabei desistindo. No final, fiquei feliz por não ter continuado com a perseguição. Você é o melhor amigo que uma garota pode ter. Quem mais iria correr comigo aos domingos?

- Aquilo não é uma corrida. É uma orgia alimentar - E puxou a última faixa de cera.

- Uau! Nunca mais me esquecerei da dor que senti. É melhor que o resultado dure seis semanas, como diz a embalagem, ou vou processar o fabricante.

Joe  a encarava em silêncio. Demetria o perseguira? Quando ela se mudara para a casa vizinha, ainda eram jovens demais para vê-la como uma menina. Era apenas a filha do vizinho. Depois, com o passar do tempo, tornaram-se amigos. Apenas amigos. E eles ainda eram amigos. Se Demetria o perseguira, não chegara muito perto. E não insistira muito. Ela estivera sempre ao seu lado, pronta para ouvi-lo, pedindo sua ajuda, ajudando-o, embora nem imaginasse quantas vezes seu coração generoso acalmara o dele, especialmente nos últimos meses desde que Ashley... Melhor nem pensar nisso. Não queria lembrar. Odiava encarar o fracasso. A longa relação de nomes que Demetria acabara de citar provava um fato: era um fracasso com as mulheres. Cinco romances sérios desde o colegial e nenhum deles havia durado. Julgara ter finalmente encontrado a alma gêmea com Ashley. Planejara casar-se com ela e formar uma família, mas o sonho morrera.

- Joe? - ela se levantou sorrindo - Vou preparar o jantar - Havia um convite implícito no comentário. Ou seria um aviso? Contendo um gemido ele pensou depressa. Demetria e cozinha eram coisas que não combinavam. Demetria e indigestão eram quase sinônimos.

- Já que suas pernas estão lisas e macias, por que não vamos exibi-las em algum restaurante? Prometo pedir camarão.

O alivio era evidente em seu rosto. Demetria odiava cozinhar.

- Estava mesmo esperando que convidasse. Agora que estou novamente sem namorado serão muitas as noites que passarei em casa, comendo a comida que faço. Sabia que isso é um incentivo pra que eu procure logo outro rapaz interessante?

- Posso imaginar.

- Bem, vou mudar a roupa. Não posso sair vestida assim.

- Não... Ei, essa camiseta é minha? - Agora que o problema fora resolvido Joe retomava o velho habito de provocá-la. Na verdade, irritá-la com a questão da camiseta tornara-se quase um ritual. Ambos sabiam que ele jamais a teria de volta. Como se nem houvesse percebido o que usava, ela abaixou a cabeça e arregalou os olhos.

- Ei, você tem razão. Eu a devolveria agora, mas prefiro lavá-la primeiro. Na semana que vem você a terá de volta.


Demetria dirigiu-se ao banheiro, e Joe não resistiu ao impulso de acompanhá-la com os olhos, apreciando o movimento sinuoso dos quadris. Sua velha amiga era uma bela mulher. Ele afastou o pensamento. Eram amigos há tanto tempo, que estava acostumado com Demetria. Demetria Devonne Lovato era quase uma irmã. E uma jovem de sorte por não ter insistido na paixão adolescente. Caso contrário, Joe teria arruinado o relacionamento que tinham construído. Tinha um jeito todo especial para agir de maneira errada com o sexo oposto. De fato, ambos tinham muita sorte por não terem ido além de uma simples experiência de respiração artificial...


4 pra proxima...

7 comentários:

  1. quero logo os 2 vendo q se amaaaammmmmmm

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  2. "Está dizendo que eu passei um ano treinando para saber corresponder quando fizesse respiração boca-a-boca?" HAHAHHAA ai tadinha.

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  3. Vi meu nome ai ... olha aqui moça vamos conversar LOL

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  4. Amei a fic!! Esperando ansiosamente pelo próximo capítulo

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